domingo, 4 de setembro de 2011

BIBLIOLOGIA


Introdução

            Por Bibliologia entende-se os estudos preliminares e auxiliares das Escrituras Sagradas. Compreende a análise piedosa da Bíblia sob os seguintes aspectos:
            a) O Livro;                                        
            b) Sua Estrutura;                           
            c) Sua Origem;
            d) Sua Autenticidade (Canonicidade);
            e) Seu Conteúdo e Tema.

Importância
           
            A Bíblia é a Palavra Revelada de Deus, seu estudo e o cumprimento de seus princípios são indispensáveis para se adquirir sabedoria e entendimento para a vida terrena e eterna.

            Nenhum outro livro tem influenciado a vida de tantas pessoas como a Bíblia. Edições sucessivas do texto sagrado evidenciam em todas as partes do mundo a sua importância para o homem em todos os tempos.

            Compreender a Bíblia e sua mensagem é compreender-se a si mesmo. Estudá-la e meditá-la é fonte de sabedoria. Seus ensinos relacionam-se à vida do homem no tempo e na eternidade. Ela fala do aqui e agora que o homem enfrenta, e também do ali e então para o qual caminha.

O Livro

            A Bíblia é um dos livros mais antigos. O nome BÍBLIA é derivado de BIBLOS, em grego, e foi usado pela primeira vez por João Crisóstomo no século IV, querendo referir-se a uma “Coleção de Livros Pequenos” ou “Pequena Biblioteca”.

Materiais Usados na Escritura da Bíblia

            - Papiro - planta aquática da qual se extrai tiras da entrecasca e as emendam até formarem rolos do tamanho que se desejassem; seu uso na escrita data de 3.000 a.C.

            - Pergaminho - pele de animais, curtida e polida. A durabilidade e qualidade da escrita são melhores que o papiro. Seu uso é mais recente que o do papiro.

            Os livros antigos, como a própria Bíblia no começo, tinham o formato de ROLO. Cada livro da Bíblia era um rolo separado. O tamanho desse rolo dependia da extensão do livro.
           
As Línguas da Bíblia
            Os originais da Bíblia foram escritos em Hebraico, Aramaico e Grego. É importante o conhecimento dessas línguas no estudo mais aprofundado da Bíblia, por causa dos idiomatismos e de expressões próprias delas que não têm correspondentes em outros idiomas.

            O Antigo Testamento, em quase sua totalidade, foi escrito na língua hebraica. Esta era a língua do povo de Israel e é chamada  “a língua judaica” (II Reis 18:26). Acredita-se que o hebraico era a mesma língua dos cananeus (Is 19.18). Algumas das tabuinhas de Tel-el-Amarna, descobertas em 1887 no Egito, com data de 400 anos depois de Abraão, são escritas em boa língua cananéia ou língua hebraica. Os trechos de Esdras  4.8 a 6.18 e 7.12-26; Daniel 2.4 a 7.28; e Jeremias 10.11 foram escritos em aramaico.

            Os livros do Novo Testamento foram escritos na língua grega, conhecida como helênica, porque os gregos eram chamados helenos ou o povo de Helas. Nos dias de Jesus, a língua grega estava espalhada por todo o Egito e Oriente, e era a língua falada pelos hebreus que residiam nas colônias de Alexandria e outras partes.

Os Manuscritos da Bíblia

            Manuscritos são rolos ou livros, escritos à mão, da antiga literatura. O texto da Bíblia foi preservado e transmitido através deles. Os originais já não existem, mas cópias deles pois, quando um manuscrito se tornava velho ou era danificado, era enterrado ou queimado, depois de ter sido copiado fielmente. Existem hoje cerca de quatro mil (4000) manuscritos da Bíblia, elaborados entre os séculos II e XV. Esses MSS tinham os seguintes formatos

- CÓDICES – é um manuscrito em formato de livro, feito de pergaminho, cujas folhas mediam 65 cm de altura por 55 cm de largura, em geral; seu uso data do Século II.

- ROLO – era feito de papiro ou de pergaminho, preso em suas extremidades por cabos de madeiras que facilitavam seu manuseio. Era enrolado da direita para a esquerda e sua extensão dependia da escrita a ser feita.

Tipos de Escritas dos MSS

            UNCIAL => é o MS de letras maiúsculas e sem separação entre as palavras;
            CURSIVO => é o MS de letras minúsculas.

            Quando a escrita se tornou mais freqüente, o preço dos pergaminhos se tornou alto. Por causa disso, costumava-se raspar a escrita de um MS para reescrevê-lo ou escrever por cima do antigo. Um MS desse tipo era chamado PALIMPSESTO.

Os Manuscritos Mais Importantes

            A história dos MSS e de sua preservação é bastante extensa. Já dissemos que os originais não existem mais. Cremos que a inexistência deles foi a providência divina para impedir que fossem adorados como fizeram com a serpente de metal e a cruz de Cristo. No entanto, Deus permitiu que, em forma de cópias, às vezes fragmentadas, fossem preservados para que a humanidade não perdesse de todo sua revelação escrita. Os MSS mais importantes são os seguintes:

O Manuscrito Vaticano

Escrito na língua grega e data do século IV. É o mais antigo conhecido no mundo. É uma obra de 4 volumes, com 700 páginas escritas em três colunas e contém a Bíblia quase inteira. Sua existência intacta no mundo por mais de 1500 anos prova que a Bíblia não é invenção humana, senão teria sido falsificada antes do século IV, quando esse  manuscrito foi produzido. Esse manuscrito se encontra na biblioteca do Vaticano, em Roma.

O Manuscrito Sinaítico
Em forma de livro cujas páginas contêm quatro colunas, exceto os livros poéticos do Antigo Testamento, que contêm apenas duas. Foi encontrado pelo Dr. Tischendorf, sábio alemão, em 1844 no Convento de Santa Catarina, perto do Sinai. Está guardado na biblioteca imperial de Leningrado, e é o mais precioso tesouro da Igreja Grega.

O Manuscrito Alexandrino
Foi escrito em grego e data do século IV. É composto de quatro volumes com páginas de duas colunas. Foi ofertado por Cyrilo Lucar, patriarca de Constantinopla, ao rei Charles I da Inglaterra em 1628. Contém a Bíblia e encontra-se atualmente no Museu Britânico, em Londres.

O Códex de Efraim
Esse Documento contém  porções do Antigo Testamento e fragmentos do Novo. É descrito como o “códex rescripto”, porque tem evidências de ter sido escrito duas vezes, uma por cima da outra. O escrito original foi apagado para receber uma tradução grega ou algumas palavras de Efraim, o Sírio. É propriedade da Biblioteca Real Francesa e encontra-se na biblioteca de Paris.

As Traduções da Bíblia

            As traduções são necessárias por três razões: Primeira, porque nem todos os povos falam a mesma língua; segunda, as línguas estão sempre se modificando; e, terceira, pela razão de a Palavra de Deus estar espalhada em muitos países, para sua melhor compreensão e propagação, é necessário tê-la na língua própria do povo. As traduções não são inspiradas por Deus; porém servem como um testemunho da existência e autenticidade dos originais. Existem inúmeras traduções e versões, ocupar-nos-emos apenas com as principais.

A Septuaginta (LXX)
            É a mais antiga tradução do Antigo Testamento hebraico para o grego. Foi feito por um grupo de setenta e dois sacerdotes especialmente convocados para esse fim, atendendo solicitação de Ptolomeu Filadelfo, monarca que reinou de 285-246 a.C. Essa tradução foi produzida em 285 a.C., na ilha de Faros, passou para o acervo da biblioteca de Alexandria e, conforme se crê, foi um dos meios que Deus usou para preparar o mundo para o advento do Evangelho.  Foi a primeira tradução completa do Antigo Testamento do original hebraico.

A Vulgata
            Versão feita por Jerônimo, o homem mais sábio do seu tempo em assuntos bíblicos, entre 387 e 405 d.C. O Antigo Testamento foi traduzido direto do hebraico para o latim. Para a tradução do Novo testamento, Jerônimo usou o texto revisto em grego. A Vulgata foi a Bíblia da Igreja do Ocidente na Idade Média e o primeiro livro impresso após a invenção do prelo.

As Traduções Européias
            Depois de longos anos de eclipse intelectual, o mundo experimentou uma renascença que se estendeu por toda parte da Europa em decorrência do descobrimento de novas terras. O contato repentino com novos povos, novas crenças e novas raças revivificou a inteligência sonolenta dos europeus. A característica central desse movimento foi o interesse pela literatura clássica da Grécia e, em alguns casos, de Israel, especialmente pelos livros do Antigo e do Novo Testamentos. Disto resultou a tradução da Bíblia para várias outras línguas onde o interesse foi despertado. Seguem as traduções mais importantes e que mais contribuíram para o desenvolvimento da teologia.

1. A Versão Inglesa - A Inglaterra foi a primeira nação a ter a Bíblia em sua própria língua. Na realidade existem várias versões da Bíblia em inglês. A primeira tradução em inglês foi feita por John Wyclif, em 1380. A segunda, que em verdade é a mais importante, foi feita por Tyndale. A tradução de Tyndale foi feita direto das línguas originais para o inglês. A Bíblia formou a mentalidade e firmou a seriedade nacional do povo inglês.

2. A Versão Alemã - Concluída por Lutero em 1534, direto dos originais para o idioma alemão, veio ser a base do idioma alemão e foi de inestimável valor para o Movimento da Reforma. Na Alemanha, a Bíblia é considerada como o começo da literatura alemã.

3. As Versões em Português - As traduções da Bíblia para o idioma português começaram ser feitas por D. Diniz, rei de Portugal, entre 1279 e 1375, e apenas partes da Bíblia foram traduzidas. As traduções completas e mais importantes são:

a) A Versão de Almeida é a tradução do ministro evangélico JOÃO FERREIRA D’ALMEIDA. Dessa tradução originaram-se as versões ARC (Almeida revista e Corrigida), concluída em 1925 pela Imprensa Bíblica Brasileira; e ARA (Almeida revista e Atualizada), concluída em 1955 pela Sociedade Bíblia do Brasil.

b) A Versão de Figueiredo é a tradução do padre português ANTÔNIO PEREIRA DE FIGUEIREDO, concluída em 1790. a tradução foi feita da Vulgata.

c) A Tradução Brasileira é a tradução feita por uma comissão de vultos do evangelismo brasileiro, nomeada pela SBA (Sociedade Bíblica Americana) e SBBE (Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira). A tradução foi feita fielmente do original, com uma rigidez gramatical que prejudica a beleza e estilo literário e a equivalência dinâmica.

d) A Tradução de Matos Soares é a tradução feita pelo padre brasileiro Matos Soares. Concluiu a tradução da Vulgata em 1932, mas só em 1946 foi publicada. É a Bíblia popular dos católicos brasileiros. Essa tradução carece de fidelidade aos originais.

Sua Estrutura

            A Bíblia é uma unidade composta de sessenta e seis (66) livros, distribuídos em duas partes principais: ANTIGO TESTAMENTO, contendo 39 livros; e NOVO TESTAMENTO, contendo 27 livros. Estes 66 livros foram escritos num período de 1600 anos, por cerca de quarenta escritores. Esses escritores pertenceram às mais variadas profissões e atividades, viveram e escreveram em países, regiões e continentes distantes uns dos outros, em épocas e condições diversas e, no entanto, seus escritos formam uma harmonia perfeita. Isto prova que um só os dirigia no registro da revelação divina: Deus.

            A expressão testamento, no AT, deriva do termo hebraico berith, e significa aliança ou concerto. Já no NT é a tradução do termo grego diatheke, e significa “um documento contendo a última vontade de alguém quanto à distribuição dos seus bens, após sua morte” e também aliança ou concerto. “A duplicidade do termo grego nos mostra que a morte do testador (Cristo) ratificou ou selou a Nova aliança, garantindo-nos toda a herança com Cristo” (Rm 8.17; Hb 9.15-17).

O Antigo Testamento

            Compreende os 39 livros da antiga aliança. Foi escrito originalmente em hebraico, exceto pequenos trechos que o foram em aramaico. Seus 39 livros estão classificados em 4 grupos, conforme os assuntos a que pertencem. A ordem dos livros não obedece a cronologia.

LEI - São os cinco primeiros livros: Gênesis, Êxodo, Levíticos, Números e Deuteronômio. São chamados também de PENTATEUCO. tratam da origem de todas as coisas, da Lei, e do estabelecimento da nação israelita.

HISTÓRIA - São os doze livros que vão de Josué a Ester e ocupam-se da história de Israel nos seus vários períodos.

POESIA - São os cinco livros que vão de Jó a Cantares de Salomão. São chamados poéticos devido ao gênero literário do seu conteúdo. Neles, de forma poética, são tratados assuntos da maior relevância para o homem e o cristianismo.

PROFECIA - São os dezessete livros que vão de Isaías a Malaquias. Estão divididos em Profetas Maiores (Isaías a Daniel) e Profetas Menores (Oséias a Malaquias). Os nomes maiores e menores não se referem a importância dos livros, mas ao tamanho e duração do ministério profético de seus escritores.

O Novo Testamento

            Costuma-se dizer que o Novo Testamento é o cumprimento exato do Antigo. Foi escrito no grego Koiné (grego comum, do povo). Seus 27 livros também estão classificados em 4 grupos, conforme o assunto a que pertencem, os quais são:

BIOGRAFIA => São os quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), os quais descrevem a vida terrena do Senhor Jesus e seu glorioso ministério. Revelam o amor de Deus em enviar seu Filho para dar a vida em favor dos pecadores.

HISTÓRIA => Trata-se do livro de Atos dos Apóstolos. Registra a história da igreja primitiva, seu viver, a propagação do Evangelho; tudo através do Espírito Santo, conforme a promessa feita por Jesus. Alguns comentadores chamam-no de Atos do Espírito Santo.

EPÍSTOLAS => São 21 epístolas ou cartas. Vão de Romanos a Judas. Essas Epístolas contêm a doutrina da Igreja. Nove delas são dirigidas à igrejas; quatro são dirigidas a indivíduos; uma é dirigida aos hebreus cristãos; e sete são dirigidas a todos os cristãos, indistintamente.

PROFECIA => É o livro de Apocalipse ou Revelação. Trata da volta pessoal do Senhor Jesus à Terra e das coisas que precederão esse glorioso evento.

Particularidades da Bíblia

            A Bíblia original não era dividida em capítulos e versículos, como a temos hoje. A divisão em capítulos foi feita em 1250, pelo cardeal Hugo de Saint Cher, abade dominicano e estudioso das Escrituras. A divisão em versículos foi feita em duas etapas. O AT em 1445, pelo Rabi Nathan; o NT em 1551, por Robert Stevens, um impressor de Paris.

            O AT tem 929 capítulos e 23.214 versículos. O NT tem 260 capítulos e 7.959 versículos. A Bíblia toda tem 1.189 capítulos e 31.173 versículos. O maior capítulo é o salmo 119, e o menor o Salmo 117. O maior versículo está em Ester 8.9; o menor, em Lucas 20.30. Os livros de Ester e Cantares não contêm a palavra DEUS, mas Deus é percebido nos fatos que neles se desenrolam.

            A frase “não temas” ocorre 365 vezes em toda a Bíblia, o que dá uma para cada dia do ano. A Bíblia foi o primeiro livro a ser impresso, depois da invenção do prelo, pelo alemão Gutemberg, na cidade de Mogúncia, Alemanha.

            A Vinda do Senhor Jesus é referida 1845 vezes, sendo 1527 no AT e 318 no NT. O nome de Jesus consta do primeiro e do último versículo do NT.

            O Antigo Testamento encerra citando a palavra “maldição”; o Novo Testamento encerra citando a expressão: “a graça do Nosso Senhor Jesus Cristo”.


Sua Origem

            A origem da Bíblia está em Deus. Isto significa que o próprio Deus decidiu por sua existência e inspirou o registro dos fatos que ela contém. Nela Deus se revela; muitos fatos que ela registra revelam os atributos, a natureza e os propósitos de Deus; mas nem toda a Bíblia é produto de uma revelação.

            Revelação é a ação de Deus tornar conhecido ao homem aquilo que lhe é impossível conhecer por seus dotes naturais. Neste caso, os fatos registrados no livro de Gênesis, quanto à criação, a tentação e queda do homem, a história das civilizações bem anteriores a Moisés lhe foram revelados, doutra maneira ele não os saberia. Já o registro desses mesmos fatos foi inspirado. Por inspiração, então, entende-se a ação do Espírito Santo em comunicar ao espírito humano a mensagem divina e capacitá-lo a transmitir essa mesma mensagem, de forma falada ou escrita.

            Temos então uma dupla autoria. De um lado Deus, revelando verdades ocultas aos sentidos comuns da humanidade e inspirando o registro delas. Do outro lado o homem, como instrumento, concretizando essa ação reveladora e inspiradora de Deus. Assim, homens santos escreveram a Bíblia com palavras do seu vocabulário, porém sob uma influência tão poderosa do Espírito Santo, que o que eles escreveram foi a Palavra de Deus.

Provas da Origem Divina da Bíblia
            Sendo a Bíblia a Palavra de Deus, o que aceitamos por fé, não pode estar sujeita a provas e argumentos. No entanto, as provas de sua origem divina existem. Nós as apresentamos não para crermos, mas porque cremos.

1) Evidências Internas
a. Sua reivindicação - 2 Cr 20.14; 24.20; Ez 11.5; 2 Tm 3.16; 2 Pe 1.21.
b. Sua harmonia.
c. Sua unidade doutrinária.
d. Sua imparcialidade.
e. A aprovação de Jesus - Lendo-a (Lc 4.16-20); ensinando-a (Lc 24.27); chamando-a “Palavra de Deus (Mc 7.13); cumprindo-a (Lc 24.44).

2) Evidência Externas
a. O testemunho da Arqueologia.
b. O testemunho das vidas transformadas.
c. Sua familiaridade entre todos os povos da terra.
d. Sua atualidade.
e. O cumprimento fiel de suas profecias.
f. Sua resistência aos mais cruentos ataques.
           
Portanto, somente Deus poderia ter sido o autor da Bíblia. O pastor Antônio Gilberto concluiu o seguinte:
            a) Homens ímpios jamais iriam produzir um livro que sempre os está condenando.
            b) Homens justos e piedosos jamais cometeriam o crime de escreverem um livro e depois fazerem o mundo crer que esse livro é obra de Deus.
            c) Os judeus (guardiões da Bíblia) jamais poderiam ser os autores dela, pois ela sempre condena suas transgressões, pondo seus defeitos a descoberto. Também se eles tivessem podido mexer nela, teriam apagado todos os males, idolatrias e rebeliões contra Deus, registrados nela.

Sua Autenticidade

            Por autenticidade ou canonicidade das Escrituras entende-se que, de acordo com padrões determinados e fixos, os livros incluídos nelas são partes integrantes de uma revelação completa e divina, a qual, portanto, é autorizada e obrigatória em relação a fé e a conduta. Então, Cânon ou Escrituras canônicas é a coleção completa dos livros divinamente inspirados, que constituem a Bíblia.

            A palavra “cânon” é de origem cristã e deriva do vocábulo grego kanon, que por sua vez provavelmente veio emprestado do hebraico kaneh, que significa junco ou vara de medir; daí tomou o sentido de norma ou regra. Mais tarde veio a significar regra de fé e, finalmente, catálogo ou lista (Gl 6.16; 2 Co 10.13).

            Em matéria de canonicidade, reconhecem-se os judeus como autoridade em cânon do Antigo Testamento; e a igreja como autoridade em cânon do Novo Testamento. Isto não significa que os judeus ou a igreja emprestaram aos livros da Bíblia sua autoridade pessoal, mas que, a partir de evidências dos próprios livros, perceberam a origem divina deles e os reconheceram como a autoridade em questões de fé e de conduta, e os declararam canônicos.

O Cânon do Antigo Testamento

            O Cânon do Antigo Testamento compreende os 37 livros das Bíblias atuais. Os judeus os organiza de forma diferente dos cristãos, não obstante serem os mesmos. Começou a ser escrito por Moisés, em 1491 a.C., e foi concluído em 445 a.C. por Esdras. Portanto, o Cânon do Antigo Testamento ficou pronto num espaço de mais ou menos mil e quarenta e seis anos (1046).

            O primeiro escritor canônico foi Moisés. Neemias e Malaquias foram os últimos do Antigo Testamento. Esdras entrou em cena em 445 a.C. e, na qualidade de escriba e sacerdote, reuniu os rolos canônicos, ficando também o cânon encerrado em seu tempo. Desde então e até hoje, os judeus reconhecem os 37 livros das nossas Bíblias atuais reunidos no cânon por Esdras, como o Cânon do Antigo Testamento.

O Cânon do Novo Testamento

            No ano 100 d.C. todos os livros do Novo Testamento já estavam escritos. O reconhecimento canônico deles, entretanto, só ocorreu em 397 d.C., no III Concílio de Cártago, depois de um amadurecimento de quase 400 anos.

            A demora do reconhecimento foi motivada  pelo cuidado e escrúpulo das igrejas de então, que, por causa de obras heréticas que apareceram nesse tempo, exigiam provas concludentes da inspiração divina de cada livro.

            As Epístolas de Paulo foram os primeiros escritos neotestamentários, entre 52 e 67 d.C.. Pela ordem cronológica, o primeiro livro do Novo Testamento é 1 Tessalonicenses (52 d.C.). 2 Timóteo foi escrita em 67 d.C., pouco antes do martírio do apóstolo Paulo em Roma. O último livro do NT é Apocalipse, escrito por João em 97 d.C., aproximadamente.
            Os judeus cumpriram sua missão de transmitir ao mundo os oráculos divinos (Rm 3.2). A Igreja também cumpriu sua parte, transmitindo as palavras e ensinos do Senhor Jesus, bem como as que Ele, pelo Espírito Santo inspirou aos escritores sacros. Estas palavras são suas: “Tenho muito que vos dizer... mas o Espírito de Verdade... dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que há de vir” (Jo 16.12,13).


Os Livros Apócrifos

            Livros Apócrifos são os livros da literatura hebraica escritos no período interbíblico, que vai de Malaquias ao evangelho de Mateus. A palavra  apócrifo significa, literalmente, “escondido”, “oculto”, em referência a livros que tratavam de coisas secretas, misteriosas. No sentido religioso, significa “falso”, “espúrio”, “não genuíno”.

            Os escritos apócrifos são em número de 14, sendo que 10 são livros e 4 são acréscimos a livros. Antes do Concílio de Trento, a Igreja romana aceitava todos, mas depois passou a aceitar apenas 11 (sete livros e os 4 acréscimos). A Igreja Ortodoxa Grega mantém os 14 até hoje.

            Os livros e acréscimos incluídos pela Igreja Romana são os seguintes:
            TOBIAS, após o livro canônico de Esdras.
            JUDITE, após o livro de Tobias.
            SABEDORIA DE SALOMÃO, após o livro canônico de Cantares.
            ECLESIÁSTICO, após o livro de Sabedoria.
            BARUQUE, após o livro canônico de Jeremias.
            MACABEU (1 e 2), ambos após o livro canônico de Malaquias.
            Os seguintes são os acréscimos ou apêndices:

            ESTER, a Ester 10.4 - 16.24.
            CÂNTICO DOS TRÊS SANTOS FILHOS, a Daniel 3.24-90.
            HISTÓRIA DE SUZANA, a Daniel capítulo 13.
            BEL E O DRAGÃO, a Daniel cap. 14.
           
Os demais, rejeitados pela Igreja Romana e aceitos pela Igreja Ortodoxa Grega, são os seguintes:
            3 ESDRAS,
            4 ESDRAS, e
            A ORAÇÃO DE MANASSÉS.

            Esses livros foram incluídos no cânon no Concílio de Trento, em 1546. Nesse Concílio, composto de 49 bispos, havia prós e contras. O clima era tão “espiritual” que, segundo o cardeal Pallavacini, em sua “História Eclesiástica”, os sacerdotes presentes travaram luta corporal, agarrados às barbas e batinas uns dos outros. Foi nesse clima “espiritual” que os apócrifos foram aprovados.

            Esses livros não podem ser reconhecidos canônicos por três razões. Primeira, porque foram escritos no período em que a inspiração havia cessado. Segunda, porque foram aprovados por quem não tem autoridade sobre o Antigo Testamento. Terceira, porque os judeus, à quem pertence a autoridade canônica veterotestamentário, nunca os reconheceram como inspirados por Deus.

            Existem ainda outros livros apócrifos relacionados tanto ao Antigo como ao Novo Testamento. São chamados pseudo-epigráficos porque nunca foram reconhecidos nem pelos judeus, nem pela Igreja. No geral, são todos eles de natureza apocalíptica.


Seu Conteúdo e Tema

            A Bíblia trata de todos os assuntos relacionados a vida humana. Sua especialidade, no entanto, é revelar ao homem a origem de todas as coisas, bem como o Criador e sua eterna vontade em relação a humanidade.

            De modo prático, a Bíblia contém:
            MANDAMENTOS para serem cumpridos;
            PROMESSAS para serem cridas; e
            BÊNÇÃOS para serem desfrutadas por aqueles que crêem nas promessas e guardam os mandamentos.

            Teologicamente, a Bíblia apresenta um plano bem desenvolvido em relação aos mundos e aos que neles habitam. Como em um edifício se salienta o desenho do arquiteto, assim a Bíblia revela ao leitor o propósito divino. Do princípio ao fim há um só plano, e, embora diversos autores humanos tivessem participado da obra, a Bíblia é uma unidade orgânica.

            No Éden a lei moral foi quebrada pelo primeiro Adão. A descendência dele violou o decálogo, mas o último Adão - Jesus Cristo - triunfou e se tornou o fim da lei, para justiça de todo aquele que crê (Rm 10.4). Então, Jesus Cristo se torna o Tema e o Personagem central de toda a Bíblia. Sua vinda ao mundo humano seguiu um plano bem definido e perfeitamente elaborado:

            PREPARAÇÃO => Todo o Antigo Testamento foi uma preparação para a vinda do Redentor e Restaurador de todas as coisas;

            MANIFESTAÇÃO => O Novo Testamento, nos quatro Evangelhos, inaugura a plenitude dos tempos, na qual Deus manifestou seu Filho-Redentor ao mundo. No Novo Testamento, portanto, tanto Jesus Cristo quanto seu Reino são manifestados.

            PROPAGAÇÃO => Nos Atos dos Apóstolos, temos a propagação da redenção e do Reino do Senhor Jesus Cristo.

            EXPLANAÇÃO => Nas Epístolas, os mistérios do Reino são planamente explicados.

            CONSUMAÇÃO => O livro de apocalipse trata da consumação de todas as coisas.
            O Plano da Bíblia, e seu conteúdo, manifesta-se ainda na comparação entre o princípio e o fim. Vejamos:


Vejamos o Quadro:

NO PRINCÍPIO
NO FIM
Deus criou os céus e a terra
 Novos céus e nova terra.
Satanás entrou para enganar
 Satanás lançado fora, para não mais enganar
O homem afastou-se de Deus
 Deus busca o homem na pessoa de Cristo
Pecado, dor, tristeza e morte
 Não há mais morte, nem tristeza, nem dor
A terra amaldiçoada
 Não há mais maldição
A Árvore da vida - homem expulso
 A Árvore da vida - homem privilegiado
O homem escondido de Deus
 Deus habitando entre os homens
Paraíso perdido
 Paraíso recuperado
A terra destruída por água
 A terra será destruída por fogo

            O Conteúdo da Bíblia e seu plano, alcançam ainda outros aspectos, estes foram considerados indispensáveis para introdução ao estudo da Bíblia.

O Código da Bíblia

O assunto "Código da Bíblia" já circula há vários meses. Quase todas as grandes revistas noticiaram a "descoberta". O código foi vendido como sensação e o livro escrito a respeito tornou-se um bestseller. O matemático israelense Eliyahu Rips e o jornalista americano Michael Drosnin estão convictos de que é possível decifrar o código da Bíblia por meio de operações matemáticas por computador. Segundo os autores, no código estariam previstos o Holocausto, a morte de Rabin, a presidência de Bill Clinton, entre outros acontecimentos. Nesse meio tempo, porém, também se ouviram vozes pessimistas questionando ou rejeitando o código. Vários especialistas o classificaram simplesmente como bobagem e acrobacia numérica. A Sociedade Bíblica Alemã tomou posição em uma reportagem intitulada "Deus não fala por códigos" e conclamou a uma avaliação sóbria. A revista "Bibel Report" afirmou que, com talento para combinar as letras de diferentes maneiras, pode-se encontrar praticamente todos os acontecimentos importantes. O procedimento seria semelhante à leitura do destino em formas surgidas do endurecimento de chumbo derretido ou à adivinhação através da leitura da borra de café. De acordo com a Sociedade Bíblica Alemã, é difícil acreditar que Deus tenha falado a Seu povo de forma codificada durante 3.000 anos, e que tiveram de aparecer os senhores Rips e Drosnin (que nem são crentes no sentido bíblico) para descobrir o que Ele de fato queria dizer.

Alguns crentes mencionam a passagem de Daniel 12.4 e pensam que, com o código da Bíblia, essa época agora tenha chegado: "Tu, porém, Daniel, encerra as palavras e sela o livro, até ao tempo do fim; muitos o esquadrinharão, e o saber se multiplicará". Evidentemente essa passagem não se refere a um código bíblico secreto, mas ao aumento do conhecimento sobre aquilo que já está escrito na Bíblia. O contexto geral de Daniel 12 leva a concluir que esta passagem trata do tempo do fim, quando mais e mais pessoas chegarão ao conhecimento da verdade em Jesus e converter-se-ão. E isto realmente está acontecendo hoje em dia. Caso os senhores Drosnin e Rips tivessem razão, nenhum cristão que crê na Bíblia poderia lê-la sem idéias pré-concebidas. Teríamos de esperar pelas interpretações desses ou de outros "decifradores de códigos bíblicos" para poder predizer acontecimentos futuros. Fica a impressão de que através da tese do "Código da Bíblia" a Palavra de Deus torna-se mais morta do que realmente digna de crédito. Um artigo do boletim "Topic" (12/97) dizia: revelações segundo o método do "Código da Bíblia" também acontecem fora da Bíblia.

Seguindo o método do "Código da Bíblia", o matemático australiano Brendan McKay trabalhou com o romance "Moby Dick". Ele chegou aos mesmos resultados "sensacionais" como Michael Drosnin, o autor do livro "O Código da Bíblia". McKay encontrou dados apropriados para acontecimentos como o assassinato de Indira Ghandi, de Martin Luther King, de Yitzhak Rabin e até do trágico acidente de Lady Diana. Não se deve esquecer de que no hebraico não existem vogais. Isso significa que as sílabas são ambíguas e, além disso, as palavras são mais curtas. Dessa maneira, as chances de se encontrar codificações que fazem sentido são muito superiores do que no inglês ou em outros idiomas. Apesar disso, o romance inglês "Moby Dick" (de 1851) já "previu" todos esses acontecimentos terríveis. McKay também realizou cálculos em relação ao nome de Michael Drosnin. Bem próximo ao nome, o matemático australiano encontrou a palavra "liar" – "mentiroso", assim como algumas referências à morte do autor do livro "O Código da Bíblia".

A Bíblia é a Palavra de Deus! Nela é descrito o passado, o presente e o futuro, e o que é mais importante: a fé absolutamente necessária em Jesus Cristo. Para compreender isso não necessitamos de nenhum "Código da Bíblia" especial, mas sim do novo nascimento e da orientação do Espírito Santo. Jesus disse em João 3.3: "...se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus." E em 1 Coríntios 2.10-12 lemos: "Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito que nele está? Assim, também as coisas de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente."
                                                                                            Fonte: www.elnet.com.br




REFERÊNCIAS


  • Caderno 01 de Teologia. IGAM. José Lima dos Santos.

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